“Nossos professores são quem conduzem nossos alunos para o sucesso dos projetos Enactus em todo o Brasil. Confira agora uma entrevista com a Professora Maria de Fátima, que é conselheira do time Enactus UNIABEU, do Rio de Janeiro.
A professora possui uma formação vasta com graduação em psicologia, Mestrado em Psicologia Social, Pós Graduação em Gestão de recursos humanos e especialização em estresse laboral e atua na área de psicologia da saúde e segurança no trabalho e empreendedorismo social.
Quando e como você conheceu a Enactus? Me conte um pouco sobre o primeiro contato com algum membro do time. Qual é a sua motivação em estar nessa rede? O que te move?
“Comecei no ano de 2016 a desenvolver um trabalho voltado ao desenvolvimento social da baixada fluminense, através do reconhecimento e desenvolvimento de talentos e potencialidades de pessoas da região. Para isso idealizei com estagiários da Psicologia (inclusive com a atual Presidente do Time Lidyane Saraiva) um curso de empreendedorismo social, que tinha como objetivo disseminar o conceito do tema. A procura pelo curso foi muito grande, cerca de 285 pessoas se inscreveram para 25 vagas e assim fizemos uma primeira seleção e depois mais algumas turmas para atender a demanda. Assim, percebi que havia necessidade de buscar algum apoio maior para desenvolver o trabalho, pois sozinha, não conseguiria atender a grande demanda da região. Na faculdade e na região há poucas pessoas que conheciam sobre o tema “”empreendedorismo social”” e por isso fui buscar na internet soluções que pudessem apoiar este trabalho que estava sendo desenvolvido. Neste sentido acabei encontrando a ENACTUS que entendi cabia perfeitamente no projeto que estava sendo desenvolvido. Minha motivação hoje de estar na rede é a possibilidade de ver o desenvolvimento social da Baixada Fluminense através do empoderamento depessoas e em especial dos alunos da UNIABEU. O que me move neste projeto é a garra e o empenho dos alunos, a preocupação que eles têm de fazer o melhor e a esperança de que poderemos ver uma Baixada Fluminense melhor, a partir do empenho de cada pessoa empoderada. Aqui, os alunos pertencem a comunidade e portanto, o empoderamento dos alunos foi um projeto Enactus que deu muito certo na UNIABEU.”
Antes da Enactus, já participou de alguma atividade que envolvia o empreendedorismo social? Ou algum tipo de ação voluntária? Conte-me mais da sua experiência.
“Sim, participei de diversos projetos ao longo da minha carreira com Psicologia e Trabalho, voltados a empregabilidade e mercado de trabalho, não tinha o nome “”Empreendorismo Social””, entretanto tinham como objetivo a inserção no mercado de trabalho e o desenvolvimento local. Havia desenvolvido na UNIABEU um curso de extensão em Empreendedorismo Social. Fui coordenadora de um projeto de formação para o primeiro emprego de jovens eletricistas e atuei dentro de empresas com treinamento para desenvolvimento de potencial.”
Como tem sido a sua experiência como professora? Como você trabalha com o time?
“Minha experiência como professora conselheira no primeiro ano foi muito cansativa, não posso mentir, os alunos ainda não sabiam exatamente para onde estavam indo e portanto tive que direcionar o foco do trabalho de uma maneira mais direta, sempre respeitando as individualidades e os limites de cada um e explicando o motivo de cada passo que era dado, de cada ação que precisava ser desenvolvida. No que os vídeos de treinamento da Paula Parra ajudaram muito também.
Até a participação no Campeonato, eu estava completamente envolvida em cada atividade do Time e ao mesmo tempo, dando a eles condições de que posteriormente pudessem tomar decisões e desenvolvessem sozinhos as ações futuras, para que não dependessem intelectualmente dos professores conselheiros. Foram direcionados para cursos on line, vídeos, estudos, livros, sites e todos os recursos que pudessem empoderá-los para que a partir do segundo ciclo pudessem continuar com mais autonomia esta caminhada.
Após o campeonato (tenho mais folga) sou chamada a participar em casos extremos e situações necessárias, na avaliação de formulários e estrutura do processo seletivo, possíveis dificuldades de relacionamento e outras situações mais pontuais. SIM, consegui que o Time desse continuidade (tinha medo de que não passassem do primeiro ciclo) e mais ainda com autonomia”.
Você está com o time desde o começo. Quais foram as maiores conquistas e aprendizados nesse período? E os desafios?
“Então, respondi um pouquinho isto na questão anterior. Estou desde o começo, aliás, eu comecei (rs). As conquistas são imensuráveis, porque a faculdade se localiza numa região muito carente de recursos e onde a escolarização básica é precária e autoestima das pessoas é baixa. Desta forma os alunos tinham o desafio de estudar, trabalhar e ainda participar do Time, sem qualquer tipo de suporte financeiro, sem entender como buscar recursos para mudar a realidade, pois jamais haviam feito isso antes. Falar de conquistas do Time Enactus Uniabeu sempre vai me emocionar, pois o Time me mostrou que é possível quando a gente acha que acabou todas as possibilidades, que a preocupação com o desenvolvimento social , precisa ser maior do que os interesses pessoais, ainda que estes não devam ser deixados de lado. Mas nem todas as conquistas são possíveis relatar neste ou em qualquer outro texto, pois tem um nível de subjetividade que só quem participou deste primeiro ciclo e desta iniciação do time, sabe o que significará (para sempre). Os aprendizados neste período foram muitos, desde aprender a lidar com diferentes pessoas e principalmente a dizer NÃO, até a olhar para a comunidade e entender que ali existem pessoas que podem fazer diferença e mais, que qualquer pessoa, desde que QUEIRA, pode fazer diferença para sua comunidade, fazendo diferença no mundo, no nosso caso, especificamente na Baixada Fluminense. O que aprendi sobre a ONU e seus projetos com base na ODS, não aprenderia se não estivesse em pesquisa com o time. Aprendemos sobre projeto e captação de recursos, assim como o trabalho em rede, o que de certo, faz diferença na vida de qualquer pessoa. mais do que isso, topei o principal desafio enfrentado neste período, atendendo a uma necessidade local, idealizei e estou coordenando a primeira Pós graduação em Gestão de Projetos Sociais da Baixada Fluminense, que tem como objetivo empoderar pessoas com formação superior para que essas possam desenvolver projetos sociais que possam receber financiamentos internacionais ou de grandes empresas.”
LINK do curso:http://www.uniabeu.edu.br/curso/gestao-de-projetos-sociais
Pensando em projetos. Qual o impacto que o time Enactus UNIABEU tem causado na região?
“Bem , o primeiro e principal impacto foi o empoderamento dos alunos, pertencentes ou não ao Time Enactus, pois os alunos da faculdade, mesmo não ingressando no Time conhecem a Enactus e algumas vezes atuam como voluntários nas ações sociais. Passaram a conhecer e entender o conceito da Enactus.”
Atualmente, um dos assuntos mais noticiados é a segurança no Rio de Janeiro. Mais recentemente tivemos o caso da Rocinha, considerada a maior favela do Brasil, no qual muitas pessoas acabaram morrendo devido ao conflito entre policiais e traficantes. Pensando na educação, como a senhora enxerga ela como uma potencial transformadora dessa realidade? Como a senhora acredita que a Enactus se encaixa nisso?
“Através da educação e da cultura é possível desenvolver habilidades, potencialidades, talentos e fazer as pessoas se sentirem importantes e participativas, entenderem que podem mudar e serem responsáveis pelo próprio futuro. Obviamente o empenho em educação e cultura com as crianças poderá mudar a realidade futura. Mas isso não basta, o que devemos fazer agora?
A violência é reflexo de uma sociedade sem educação e sem cultura, mas também das diferenças sociais, do TER sobre o SER, que predomina na sociedade que pergunta: O que você é? E se preocupa com o que você tem. Que favorece a competitividade. De maneira geral, o poder público, não se preocupa em DESENVOLVER HABILIDADES, POTENCIALIDADES E TALENTOS, pois isto seria um enorme risco para o atual sistema político brasileiro, que pretende ainda manter submissa uma população carente: carente de educação, carente de cultura, carente de saneamento básico, carente de recursos para o seu próprio desenvolvimento. Enfrentar o empoderamento das pessoas é tudo o que o poder público não quer, e por isso não se move no sentido de estabelecer estratégias de desenvolvimento social, que de certo, poderiam efetivamente mudar a realidade das comunidades.
A segurança pública precisa agir de forma preventiva e as vezes ostensiva em situações pontuais, foi criada para isso, entretanto, a policia esta sendo utilizada há muitos anos como veículo de intimidação, o que de certo não poderia ter um resultado positivo.
Mesmo diante de todas os problemas associados a violência não apenas na Rocinha mas em todo o estado do Rio de Janeiro, em especial na Baixada Fluminense (região com maior índice de violência do estado) onde atua o Time Enactus Uniabeu, não se vê o poder público, seja estado ou municípios, se mobilizando para desenvolver ações sociais que possam transformar realidades. Não os isento deste papel e entendo ser dele a responsabilidade por saúde, educação, qualidade de vida e desenvolvimento cultural, mas também entendo que não podemos esperar ações ou apenas cobrar iniciativas (o que precisa ser feito em paralelo a realização de projetos).
É preciso antecipar ações que possam transformar a vida das pessoas e fazer dessas pessoas multiplicadores, de forma a reduzir os índices de pessoas em situação de risco ou vulnerabilidade, isso é URGENTE PARA TODAS AS IDADES. Neste ponto entram as iniciativas Enactus, especialmente para que se saia do ambiente acadêmico com soluções e não apenas publicações, que se faça no ambiente acadêmico reflexões críticas com propostas de resultados e não apenas reflexões em fundamentos teóricos algumas vezes ultrapassados para uma sociedade que evoluiu muito tecnologicamente mas muito pouco em relação ao desenvolvimento psicossocial.
Pelo que vi no campeonato, e vivi com os alunos, a Enactus tem tido um importante papel neste na transformação de realidades, caminha, ocupando um importante espaço social no Brasil e no mundo, exatamente com quem pode e está mais apto a fazer isso, os jovens. Acredito muito no trabalho desenvolvido, que comunga com as minhas idéias pessoais e isso de certa forma, conforta, porque algumas vezes perdemos a esperança, o que torna difícil caminhar.
Gostaria de destacar que o campeonato anual, acaba sendo também uma forma de oxigenar as idéias e encontrar pessoas que tenham o mesmo entendimento sobre desenvolvimento social e ver que outras pessoas também estão fazendo, a sua parte.”
Agradecemos a professora pela disponibilidade em realizar esta entrevista e por ser uma das pessoas que acreditam em nosso propósito na Enactus. Obrigado, Time Enactus UNIABEU. “